Que me desculpe a crítica engravatada, mas sempre que elogia um autor português (ou, neste caso, um que escreve em português) fico desconfiado. É que, regra geral, quando vou ler esse autor em busca da apregoada excelência, desilusão, não encontro nada de especial. O defeito até poderá ser meu, mas fica-me sempre a pergunta: serão o crítico e o autor amigalhaços? A crítica será uma amabilidade a alguém? Talvez, este é um mercado pequeno… e estamos em Portugal. Mas isso não aconteceu com Jesusalém, o primeiro livro que li de Mia Couto. Concordo com o melhor que li da crítica.
A premissa deste livro fez-me lembrar vagamente outro que li quando devia ter uns quinze anos, A Costa dos Mosquitos, de Paul Theroux: um pai, enlouquecido, arrasta a família para a selva pois convence-se que o mundo acabou (o tempo enublou detalhes, mas acho que era qualquer coisa do género). Jesusalém é um livro bonito, tocante e escrito de forma quase poética. Apesar de (infelizmente) não ser apreciador de poesia, sou sensível à prosa poética. E se a maior parte da prosa poética costuma soar-me forçada e vazia, não foi esse o caso com Mia Couto. Adorei o seu português, a simplicidade do seu texto, algumas frases são dignas de se anotarem para as relermos. Mais: apesar de estar na moda escrever livros em que se secundariza a história em detrimento de outras habilidades, Mia Couto tem o mérito de conquistar a crítica sem ir em modas.
Em suma, e este é o maior elogio, fiquei com vontade de ler mais Mia Couto e de o recomendar aos amigos.
Luis CR [editor]